sexta-feira, 27 de abril de 2012


Idolatria (tratado inédito, de J.C.Ryle)


19º Capítulo do livro “Nós desatados”, versão de 1878, escrito por
John Charles Ryle
Clérigo e Bispo da Igreja da Inglaterra


"Fujam da idolatria" (1Co 10.14).

À primeira vista pode parecer que o texto que encabeça esta página não seja necessário na Inglaterra. Numa época de educação e inteligência como a nossa, quase podemos chegar à conclusão de que é perda de tempo dizer a um inglês que "fuja da idolatria". 
Atrevo-me a dizer que pensar assim seria um grande erro. Creio que vivemos num tempo em que a questão da idolatria encontra-se bem perto de nós, ao nosso redor e mesmo entre nós. Em poucas palavras, o segundo mandamento está sendo transgredido.

Sem mais preâmbulos, proponho que consideremos os seguintes quatro pontos:

I. Definição de idolatria. O que é?
II. A causa da idolatriaDe onde provém?
III. A forma que a idolatria adota na Igreja visível de CristoOnde está?
IV. A abolição definitiva da idolatriaO que acabará com ela?

Creio que a questão está cercada de dificuldades. Nossa sorte está lançada numa época em que a Verdade está constantemente em perigo de ser sacrificada no altar de uma suposta tolerância, de um suposto amor, de uma suposta paz. Contudo, estou certo de que a verdade sobre a idolatria é a mesma em todas as épocas, em todos os tempos.

I. Permitam-me, em primeiro lugar, oferecer uma definição de idolatria, e mostrar-lhes o que a idolatria é.

Compreender isso é da maior importância. Nessa questão há muitas indefinições e confusões, como sói acontecer em assuntos religiosos. O cristão que não deseja errar continuamente em sua jornada espiritual precisa ter uma rota bem sinalizada em sua mente, com definições claras.

Afirmo, portanto, que a idolatria é a adoração em que a honra que somente Deus merece e somente a Ele deve ser rendida é entregue a Suas criaturas ou a invenções de Suas criaturas.

A idolatria tem várias faces. Pode adotar uma infinidade de formas segundo o grau de ignorância ou de conhecimento. Pode ser obviamente absurda e ridícula ou pode aproximar-se bastante da Verdade e admitir as defesas mais apaixonadas. Mas, seja na adoração a um deus hindu ou na adoração à hóstia na basílica de São Pedro em Roma, o princípio da idolatria é o mesmo. Em ambos os casos, a honra que somente Deus merece é tirada d'Ele e  entregue a algo que não é Deus. E onde quer que isso aconteça, seja num templo pagão ou em igrejas que professam ser cristãs, acontece um ato de idolatria.

Não é preciso que um homem rejeite formalmente a Deus e a Cristo para ser um idólatra. Longe disso. É perfeitamente compatível professar reverência ao Deus da Bíblia e ao mesmo tempo praticar a idolatria. Os filhos de Israel nunca pensaram em renunciar a Deus quando persuadiram Aarão para que fizesse um bezerro de ouro. "Estes são teus deuses [Elohim] que te tiraram da terra do Egito", disseram. E a festa em honra ao bezerro foi chamada de "festa dedicada a Yahweh" (Ex 32.4,5). Jeroboão, por exemplo, jamais pretendeu pedir às dez tribos que abandonassem sua lealdade ao Deus de Davi e Salomão. Quando ergueu os bezerros de ouro em Dã e Betel, disse: "Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses [seusElohim], ó Israel, que tiraram vocês do Egito" (1Rs 12.28). Devemos observar que em nenhum desses casos um ídolo foi erigido no lugar de Deus, mas sim como uma "ajuda", uma "escada" para cultuar a Deus. Mas em ambos os casos um grande pecado foi cometido. A honra devida unicamente a Deus foi entregue a uma representação de Deus. A majestade e a glória de Yahweh foram ofendidas. O segundo mandamento foi quebrado. Aos olhos de Deus houve um flagrante ato de idolatria.

É tempo de tirarmos de nossas mentes ideias vagas sobre idolatria tão comuns em nossa época. Não devemos pensar, como fazem muitos, que somente há dois tipos de idolatria: a idolatria espiritual do homem que ama a sua esposa, seu filho ou seu dinheiro mais do que ama a Deus e a crassa e aberta idolatria do homem que se inclina diante de uma imagem de madeira, metal ou pedra porque não conhece outra coisa. Sem dúvida, a idolatria é um pecado que ocupa um espaço muito maior do que isso. Não é meramente algo que ocorre na Índia e de que ouvimos falar em reuniões missionárias, nem é algo que se limita a nossos corações e que podemos confessar, de joelhos, diante do Trono da Graça. Idolatria é uma enfermidade que assola a Igreja de Cristo muito mais do que se imagina. É um mal que, como o homem do pecado, se assenta no santuário de Deus (2Ts 2.4). É um pecado que todos precisamos vigiar e contra o qual todos devemos orar constantemente. Ele se desliza em nossa adoração de forma quase imperceptível, e, de repente, cai sobre nós. Quão terríveis são as palavras que Isaías dirigiu não ao adorador de Baal, mas ao judeu frequentador do Templo:  "Mas aquele que sacrifica um boi é como quem mata um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, é como quem quebra o pescoço de um cachorro; aquele que faz oferta de cereal é como quem apresenta sangue de porco, e aquele que queima incenso memorial, é como quem adora um ídolo. Eles escolheram os seus caminhos, e suas almas têm prazer em suas práticas detestáveis" (Is 66.3).

Este é um pecado que Deus censurou especialmente em Sua Palavra. Um dos Dez Mandamentos está dedicado à sua proibição. Nem um só deles contém uma declaração tão solene da natureza de Deus e de Seus juízos contra os desobedientes: "Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam" (Ex 20.5). Talvez nenhum outro mandamento seja tão enfatizado quanto este, especialmente no capítulo 4 de Deuteronômio.

Esse é o pecado que os judeus parecem ter sido mais propensos a cometer antes da destruição do Templo de Salomão. O que é a história de Israel sob seus juízes e reis, senão a triste repetição de inúmeras quedas na idolatria? Uma e outra vez lemos sobre os "lugares altos" e seus falsos deuses. Uma e outra vez lemos da recaída no velho pecado. Parece que o amor aos ídolos fazia parte da carne e do sangue dos israelitas. Em outras palavras, o pecado dominante da Igreja do Antigo Testamento era a idolatria. Israel desviava-se constantemente para os ídolos e adorava a obra de mãos humanas.

Esse é o pecado, dentre todos os demais, que tem acarretado os juízos mais severos de Deus sobre a Igreja visível. Trouxe sobre Israel os exércitos do Egito, Síria, Assíria e Babilônia. Dispersou as dez tribos, queimou Jerusalém e levou Judá e Benjamim ao cativeiro. Em tempos posteriores trouxe sobre as igrejas orientais a avalanche da invasão sarracena e transformou muitos jardins espirituais em desertos. A desolação que hoje reina onde outrora pregaram Cipriano e Agostinho, a morte em vida na qual estão presas as igrejas da Ásia Menor e da Síria, tudo isso é consequência desse pecado. Todas as coisas testificam da mesma grande verdade que proclama nosso Senhor em Isaías: "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8).

Precisamos entender o fenômeno da idolatria se quisermos manter pura a Igreja de Cristo. Não foi em vão que o Apóstolo Paulo nos deu esta ordem: "Fujam da idolatria".

II. Em segundo lugar, permitam-me mostrar a causa da idolatriaDe onde ela provém?

Para o homem que tem uma ideia exagerada sobre o intelecto humano e a razão, a idolatria pode parecer uma coisa absurda. Pode pensar que a idolatria é irracional demais para pôr alguém em perigo, exceto, talvez, mentes muito débeis.

Para alguém que vê o Cristianismo de modo superficial, o perigo da idolatria pode parecer muito pequeno. "Mesmo que quebrem muitos mandamentos" - dizem - "os cristãos não são susceptíveis de cair no engano da idolatria".

Bem, pensar desse modo demonstra um lamentável desconhecimento da natureza humana. Há raízes secretas de idolatria no interior de todos nós. A presença marcante da idolatria em todas as épocas entre os pagãos e as advertências dos ministros protestantes contra a idolatria comprovam cabalmente isso.

A causa de toda a idolatria é a corrupção natural do coração do homem. Essa grande enfermidade congênita com a qual todos os filhos de Adão nascem infectados se manifesta de muitas e variadas formas. Da mesma fonte de onde saem "os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez" (Mc 7.21,22) surgem também as falsas ideias sobre Deus e as falsas ideias sobre adoração; e quando o Apóstolo Paulo fala aos gálatas sobre as "obras da carne" (Gl 5.20), coloca a idolatria em lugar de destaque entre elas.

O homem terá sempre algum tipo de religião. Deus não ficou sem testemunho entre nós. Como velhas inscrições soterradas sob montanhas de escombros, como escritos quase apagados em antigos palimpsestos, há algo gravado tenuamente no fundo do coração humano, algo que nos faz sentir que deve haver alguma religião e algum tipo de culto. A prova disso pode ser encontrada ao redor de todo o planeta. O homem sempre terá alguma forma de culto.

Então entram em jogo os efeitos da Queda. O desconhecimento de Deus, os conceitos carnais e vis a respeito da natureza e dos atributos divinos, ideias mundanas e sensuais a respeito do culto que é aceitável para a Divindade, tudo isso caracteriza a religião do homem natural. Há um desejo em sua mente de ver, sentir e tocar a Divindade. Quer trazer Deus ao seu próprio nível degradado. Não tem a mínima ideia sobre a religião do coração, da fé e do espírito. Em resumo, deseja viver com Deus ao mesmo tempo em que vive de forma corrompida e caída. Até ser renovado pelo Espírito Santo, o homem sempre prestará um culto distorcido. A idolatria, portanto, é um produto do coração caído do homem. É uma erva daninha que, como terra sem cultivo, o coração está sempre disposto a produzir.

Nos surpreendemos ao ler sobre a idolatria de Israel, a Igreja do Antigo Testamento, a adoração a Baal, Moloque, Quemos e Aserá; os lugares altos e os postes-ídolo; as imagens de madeira, e tudo isso à luz da lei mosaica? Não deveríamos nos surpreender. Há uma explicação. Há uma causa.


Nos surpreendemos ao ler sobre como a idolatria se infiltrou gradualmente na Igreja de Cristo, como pouco a pouco foi substituindo o verdadeiro Evangelho, até que os homens chegaram a preferir o altar da Virgem Maria ao de Jesus Cristo? Deixemos de nos surpreender; é compreensível. Há uma causa.


Nos surpreende ouvir falar de homens que abandonam o protestantismo e voltam para a Igreja de Roma? Pensamos que é inexplicável e cremos que nós mesmos jamais poderíamos abandonar a verdadeira adoração pela do papa? Não deveríamos ficar surpresos. Há uma causa.

Essa causa é a corrupção do coração humano. Há uma propensão e uma tendência natural em todos nós de oferecer a Deus uma adoração carnal, sensual, e não a que Ele ordena em Sua Palavra. Estamos sempre dispostos, devido a nossa preguiça e incredulidade, a inventar ajudas visíveis e atalhos em nossa aproximação a Deus. De fato, a idolatria é fácil, é como ir ladeira abaixo, num caminho amplo e espaçoso. A adoração genuína, por outro lado, é como remar contra a corrente. Qualquer outra forma de adoração é mais agradável para o coração corrompido do ser humano do que aquela descrita por nosso Senhor: "Em espírito e em verdade" (Jo 4.23).

Particularmente não fico surpreso com a amplitude de idolatria que existe tanto no mundo quanto na Igreja visível. Creio que é perfeitamente factível que vivamos para ver muito mais do que poderíamos imaginar, nesse quesito. Não ficaria surpreso se surgisse algum poderoso Anticristo pessoal antes do fim, poderoso intelectualmente, poderoso em talentos para o governo, sim, e poderoso, talvez, até mesmo em sinais milagrosos. Não ficaria surpreso em ver alguém assim levantando-se contra Cristo e comandando uma conspiração contra o Evangelho. E estou certo de que muitos se deleitariam em honrar semelhante personagem. Creio que muitos o tratariam como um deus, o reverenciariam como a encarnação da Verdade e o cultuariam como um grande herói. É uma possibilidade. Mas de uma coisa estou certo: nenhum homem está a salvo da idolatria, mesmo os que afirmam desprezar qualquer religião; e a incredulidade e o ateísmo estão a um passo da mais crassa idolatria. Não pensemos, pois, que estamos imunes à idolatria. "Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!" (1Co 10.12). Faremos bem em examinar nossos próprios corações: o germe da idolatria está aí. Lembremos as palavras de Paulo: "Fujam da idolatria".


III. Em terceiro lugar, desejo mostrar as formas que a idolatria tem adotado na Igreja visívelOnde ela está?


Creio que não existe nada mais infundado do que a teoria de que a Igreja de Cristo está a salvo da idolatria. Nem a Escritura nem os fatos apoiam tal teoria. A Igreja contra a qual as portas do inferno não prevalecerão não é a Igreja visível, mas sim todo o corpo dos eleitos, a congregação dos verdadeiros crentes de todo povo e nação. A maior parte da Igreja visível tem sustentado, frequentemente, muitas heresias. Suas ramificações nunca estão a salvo de algum erro fatal, tanto na doutrina quanto na prática. Um abandono da fé, uma queda, o esquecimento do primeiro amor em qualquer parte da Igreja visível não deveria surpreender ao leitor mais atento do Novo Testamento.


Aparentemente parece que os Apóstolos esperavam que a idolatria surgisse mesmo antes do cânon do Novo Testamento ser encerrado. É interessante observar como Paulo trata dessa questão em sua primeira epístola aos Coríntios. Se algum irmão em Corinto fosse idólatra, os membros da igreja não deveriam nem comer com ele (1Co 5.11). "Não sejam idólatras, como alguns deles foram" (1Co 10.7). "Fujam da idolatria" (1Co 10.14). Quando escreve aos colossenses, os adverte contra a "adoração de anjos" (Cl 2.18). E João encerra sua primeira epístola com o solene mandamento: "Filhinhos, guardem-se dos ídolos" (1Jo 5.21).


A bem conhecida profecia do capítulo 4 da primeira epístola de Paulo a Timóteo contém uma passagem deveras interessante: "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios" (1Tm 4.1). Na verdade o real significado dessa expressão é "doutrinas sobre espíritos mortos". E à luz desse significado, a passagem torna-se uma predição direta do auge da forma de idolatria mais perniciosa: a adoração dos santos mortos.


Farei referência, ainda, ao final do capítulo 9 de Apocalipse. Ali podemos ler, no versículo 20: "O restante da humanidade que não morreu por essas pragas, nem assim se arrependeu das obras das suas mãos; eles não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não podem ver, nem ouvir, nem andar". Aventuro-me a afirmar que é bem possível que as pragas do capítulo 9 de Apocalipse cairão sobre a Igreja visível e que é muito improvável que o Apóstolo João estivesse profetizando sobre os pagãos que jamais ouviram o Evangelho. A idolatria, aqui, é um pecado predito a respeito da Igreja visível.


E agora, ao passar da Bíblia para os fatos do nosso dia a dia, o que é que observamos? Respondo sem hesitar que existem provas inequívocas de que as advertências e predições da Bíblia não foram feitas sem causa e que efetivamente a idolatria surgiu na Igreja visível de Cristo, e continua existindo nela.


No século IV, Jerônimo queixou-se dos "erros das imagens, que vieram dos gentios para os cristãos"; e Eusébio disse: "Vemos que apresentam imagens de Pedro e Paulo e mesmo de nosso Senhor Jesus Cristo, costume que vem dos antigos hábitos pagãos e que hoje se conservam com indiferença". No século V, Pôncio Paulino, bispo de Nola, fez que pintassem as paredes dos templos com histórias do Antigo Testamento, para que as pessoas olhassem as imagens e decidissem se abster de excessos e revoltas. Mas pouco a pouco aquilo deu margem à idolatria. Irene, mãe de Constantino VI, reuniu um concílio no século VIII, em Nicéia, promulgando um decreto segundo o qual deveriam pôr imagens em todas as igrejas da Grécia e que tais imagens deveriam ser honradas. Nosso Livro de Homilia da Igreja da Inglaterra declara: "Congregações e clero, eruditos e analfabetos, homens, mulheres e crianças de todas as classes sociais e idades, em toda a cristandade, naufragaram na mais abominável idolatria, o vício mais detestável por Deus e o mais condenável para o homem, e isso durante mais de 800 anos".


Essa é uma história triste, mas exata. Creio que nenhum homem deveria surpreender-se diante do fato de que a idolatria começou na Igreja primitiva, se considerar cuidadosamente a excessiva reverência que a mesma rendia, desde seus começos, aos aspectos exteriores da religião. Creio que nenhum homem imparcial pode ler a linguagem utilizada por quase todos os "Pais" da Igreja com respeito à própria Igreja, aos bispos, ao ministério, ao batismo, à Ceia do Senhor, aos mártires, aos santos mortos; nenhum homem pode ler tais escritos sem dar-se conta da diferença gritante entre sua linguagem e a linguagem da Escritura em relação a essas questões. São atmosferas bem diferentes. Ao ler os escritos dos Pais, percebemos que não estamos mais em terreno santo. Descobrimos que as coisas que na Bíblia são de importância secundária, começam a ser tratadas como essenciais e fundamentais na literatura patrística. Descobrimos que as coisas relacionadas aos sentidos são exaltadas a uma posição que Paulo, Pedro, Tiago e João, falando pelo Espírito Santo, jamais as consideraram. Sim, ao ingressar na literatura patrística, entramos também nos primórdios da idolatria. Detectamos ali as sementes de um gigantesco esquema de idolatria que posteriormente foi formalmente aceito e estabelecido em todos os rincões da cristandade.


Em nossa própria época, não tenho dúvidas de que a idolatria encontra sua manifestação mais notória na Igreja de Roma.


Sim, a idolatria é um dos mais clamorosos pecados dos quais a Igreja de Roma é culpada. Digo isso com pleno reconhecimento de nossas falhas como protestantes, inclusive não pouca idolatria em nossas fileiras. Mas quando falamos de idolatria formal, reconhecida e sistematizada, francamente devemos falar de catolicismo romano.


Idolatria é ter imagens e retratos de "santos" nas igrejas e reverenciá-los sem base nem precedente algum para isso nas Escrituras. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é invocar a virgem Maria e aos santos e dirigir-se a eles utilizando uma linguagem que nas Escrituras é reservada somente para a Santíssima Trindade. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é inclinar-se diante de coisas materiais e atribuir a elas um poder e uma santidade muito superiores aos que eram atribuídos, por exemplo, à arca da aliança ou ao altar de sacrifícios do Antigo Testamento; e um poder e uma santidade completamente alheios à Palavra de Deus. Portanto, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é adorar aquilo que foi feito pelas mãos dos homens, chamar isso de Deus e adorá-lo quando é erguido diante de nossos olhos. E posto que é assim com a doutrina da transubstanciação e com a elevação da hóstia, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Idolatria é fazer de homens ordenados mediadores entre Deus e o povo, roubando do Senhor Jesus Cristo o Seu ofício e rendendo a tais homens uma honra que até mesmo os Apóstolos e os anjos rejeitaram para si, como podemos ver nas Escrituras. E posto que é assim que acontece com a honra concedida aos papas e sacerdotes, afirmo que há idolatria na Igreja de Roma.


Sei que meu linguajar choca muitas mentes. Os homens gostam de fechar os olhos diante de males que deveriam ser rejeitados. Preferem não ver as coisas que implicam consequencias desagradáveis. Homens assim negarão que a Igreja de Roma é idólatra.


Os romanistas nos dizem que a reverência que a Igreja de Roma dá aos santos e às imagens não equivale à idolatria. Eles nos informam que há distinções entre a adoração "latria" e "dulia", entre uma mediação de redenção e uma mediação de intercessão, e isso os deixa sem culpa. Minha resposta é que a Bíblia desconhece essas distinções e que, na prática efetiva da absoluta maioria dos católicos romanos, tais distinções artificiais não existem em absoluto.


Os romanistas nos dizem, também, que é um erro supor que os católicos romanos realmente adoram imagens e retratos diante dos quais realizam seus cultos, e que somente os utilizam como "ajudas" para a devoção, e que na realidade estão olhando bem mais além. Minha resposta é que muitos pagãos podem dizer o mesmo de sua idolatria. Tal desculpa não é válida. Os termos do segundo mandamento são bem claros: proíbe-se prostrar, além de adorar. E a conduta da Igreja de Roma, com sua preocupação de excluir o segundo mandamento de seus catecismos e ensinos, fala por si mesma como um fato que testifica da consciência culpada pela idolatria dos dirigentes católicos.


Os romanistas nos dizem, ainda, que não temos provas de nossas asseverações a respeito da idolatria; que baseamos nossas conclusões nos "abusos" que cometem os membros mais ignorantes da comunhão católica, e que é absurdo dizer que uma Igreja onde há tantos homens sábios e eruditos seja uma Igreja idólatra. Ora, qualquer um que leia as orações católicas dirigidas a Maria (escritas por ilustres membros do colegiado católico) verá que não cometemos nenhum exagero quando afirmamos que a Igreja de Roma é idólatra. Tais orações e louvores são dirigidos a uma mulher que, apesar de ser grandemente favorecida e de ser a mãe terrena de nosso Senhor, era no entanto tão pecadora quanto qualquer um de nós, uma mulher que confessou sua própria necessidade de um Salvador pessoal: "O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.47). Essa linguagem, à luz do Novo Testamento, revela a terrível idolatria da qual a Igreja de Roma é culpada.


Mas, além disso, temos outras evidências fornecidas pela própria Roma. O que os devotos, homens e mulheres, fazem diante do papa? Que religião impera atrás dos muros do Vaticano? Como é o catolicismo em Roma, sem travas nem restrições? Que os homens observem o que acontece naquele lugar, e em suas sucursais espalhadas pelo mundo todo, e não poderão deixar de chegar à conclusão de que o romanismo não passa de um gigantesco sistema de adoração a Maria e aos santos e a imagens e a relíquias e a sacerdotes; em poucas palavras, uma grande idolatria organizada.


Há uma grande diferença entre os dogmas da Igreja de Roma e as opiniões particulares de seus membros. Creio que muitos católicos romanos são incoerentes em seus corações e são até mesmo melhores do que a igreja a qual pertencem, pelo menos assim espero. Lembro aqui dos jansenitas, de Quesnel e de Martin Boss. Creio que há muitos pobres católicos que praticam a idolatria porque não conhecem nada melhor. Não têm uma Bíblia que os instrua. Não contam com um ministro fiel que lhes ensine. Temem ao sacerdote diante deles e não se atrevem a pensar por si mesmos. Em tempos como estes, quando muitos estão dispostos a separar-se da verdadeira Igreja e seguir para a Igreja de Roma, minha consciência me repreenderia caso não advertisse claramente aos homens que o catolicismo romano é idólatra e que quem se une a ele une-se também aos ídolos.


Em nenhum outro lugar a idolatria se manifesta tão visivelmente como na Igreja de Roma.


IV. E agora, em último lugar, desejo falar sobre a abolição definitiva da idolatriaO que acabará com ela?


Considero que a alma do homem que não deseja a extinção da idolatria encontra-se enferma.  Não pode estar em comunhão com o Deus verdadeiro o coração que pensa nos bilhões que estão mergulhados no paganismo ou os que honram ao falso profeta Maomé ou aos que oferecem diariamente orações a Maria e aos santos, e não clama: "Oh, meu Deus, quando chegará o fim de todas essas coisas? Até quando, Senhor?".


Aqui, como em outras questões, a palavra da profecia vem em nosso auxílio. Um dia chegará ao fim toda forma de idolatria. Sua condenação é certa. Sua destruição está assinalada. Seja em templos pagãos, seja em supostas igrejas "cristãs", a idolatria será destruída na Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Então se cumprirá plenamente a profecia de Isaías: "os ídolos desaparecerão por completo" (Is 2.18). Cumprir-se-ão as palavras de Miquéias: "Destruirei as suas imagens esculpidas e as suas colunas sagradas; vocês não se curvarão mais diante da obra de suas mãos" (Mq 5.13). E as palavras de Sofonias: "O SENHOR será terrível contra eles, quando destruir todos os deuses da terra" (Sf 2.11).


E as palavras de Zacarias: "Naquele dia eliminarei da terra de Israel os nomes dos ídolos, e nunca mais serão lembrados" (Zc 13.2). Numa palavra, o Salmo 97 encontrará seu pleno cumprimento: "O SENHOR reina! Ficam decepcionados todos os que adoram imagens e se vangloriam de ídolos. Prostram-se diante dele todos os deuses!" (Sl 97.1,7).


A Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo é essa bendita esperança que deve consolar todos os filhos de Deus. É a estrela polar que deve guiar nossa viagem. É o ponto no qual todas as nossas expectativas devem concentrar-se. "Pois em breve, muito em breve Aquele que vem virá, e não demorará" (Hb 10.37). O Senhor manifestará Seu grande poder, reinará e fará com que todo joelho se dobre diante d'Ele.


Até então não desfrutamos perfeitamente de nossa redenção, como diz Paulo aos efésios: "vocês foram selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). Até Cristo voltar nossa salvação não estará completa, como diz Pedro: "são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo" (1Pe 1.5). Em resumo, o melhor está por vir.


Mas, no dia do regresso de nosso Senhor, todo desejo receberá sua plena satisfação. Já não estaremos mais abatidos e exaustos por esse sentimento de debilidade e decepção. Na presença do Senhor encontraremos plenitude de alegria, e ao despertarmos em Sua semelhança estaremos satisfeitos verdadeiramente (Sl 16.11; 17.15).


Agora há muitas abominações na Igreja visível ante as quais somente podemos gemer e clamar como faziam os fiéis no tempo de Ezequiel (cf. Ez 9.4). Não podemos eliminar todos os erros. O trigo e o joio crescem juntos até chegar a colheita. Mas está próximo o dia em que o Senhor Jesus purificará uma vez mais o Seu templo e lançará fora toda a imundície. Fará a obra da qual os atos de Ezequias e Josias foram um pálido tipo em suas épocas. Lançará fora as imagens e destruirá a idolatria em todas as suas manifestações.


Quem anela agora pela conversão do mundo pagão? Não a veremos em sua plenitude até a manifestação do Senhor Jesus. Então, e somente então, será cumprida esta palavra: "Naquele dia os homens atirarão aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e os ídolos de ouro, que fizeram para adorar" (Is 2.20).


Quem anseia agora pela redenção de Israel? Não a veremos em sua plenitude até que o Redentor venha a Sião. A idolatria na Igreja professante de Cristo tem sido uma das mais terríveis pedras de tropeço no caminho dos judeus. Quando comece a cair, começará a ser retirado o véu que cobre o coração de Israel (cf. Sl 102.16).


Quem deseja agora a queda do Anticristo e a purificação da Igreja de Roma? Não a veremos até o fim desta era. Esse vasto sistema de idolatria será consumido pela manifestação do Senhor (cf. 2Ts 2.8).


Quem quer uma Igreja perfeita, uma Igreja na qual não exista mais a menor mancha de idolatria? Não a veremos até o retorno do Senhor. Então, e somente então, veremos uma Igreja perfeita, uma Igreja sem mancha nem ruga nem coisas semelhantes (cf. Ef 5.27), uma Igreja da qual todos os membros estarão regenerados e todos serão filhos de Deus.


Se é assim, os homens não devem surpreender-se quando os instemos a estudar a profecia e a confiar na doutrina da Segunda Vinda de Cristo. Essa é a "tocha que ilumina na escuridão", à qual faremos bem em prestar atenção. Deixemos que outros se entreguem às fantasias, se assim o desejam, com a ideia imaginária de uma "Igreja do futuro". Deixemos que os filhos deste mundo sonhem com um tipo de "homem vindouro" que compreenda todas as coisas e ponha ordem neste mundo. Somente estão cultivando uma amarga decepção. Reconhecerão que suas visões são infundadas e vazias como um sonho fugaz. A eles podem bem ser aplicadas as palavras do profeta: "Mas agora, todos vocês que acendem fogo e fornecem a si mesmos tochas acesas, vão, andem na luz de seus fogos e das tochas que vocês acenderam. Vejam o que receberão da minha mão: vocês se deitarão atormentados" (Is 50.11).


Atente para a Segunda Vinda de Cristo. Esse é o único Dia em que se corrigirá todo abuso e se castigará toda corrupção e fonte de tristeza. Aguardando esse Dia, trabalhemos e sirvamos a nossa geração; não estando ociosos, como se nada pudesse ser feito para refrear o mal; mas também não num ativismo cego e infrutífero, pois vemos todas as coisas ainda sujeitas ao nosso Senhor. Depois de tudo, a noite está avançada e o Dia vem se aproximando. Eu o exorto a esperar no Senhor.


Posto que as coisas são assim, os homens não devem se surpreender de nossas advertências a respeito da Igreja de Roma. Sem dúvida, quando a ideia de Deus a respeito da idolatria é revelada tão claramente em Sua Palavra, parece o cúmulo do absurdo unir-se a uma instituição tão impregnada de idolatria como a Igreja de Roma. Nem pensar em ter comunhão com ela, quando Deus diz: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!" (Ap 18.4). Nem pensar em buscá-la, quando o Senhor nos adverte para que a abandonemos e não nos convertamos em seus súditos. "Fuja pela sua vida, fuja da ira vindoura". Pertencer à Igreja de Roma certamente é cegueira mental, uma cegueira como a daquele que, mesmo avisado, embarca num navio que está naufragando; uma cegueira indesculpável, diante de tudo aquilo que se pode ver na Igreja de Roma.


Todos devemos vigiar. Não devemos aceitar nada a priori. Não devemos supor apressadamente que somos muito sábios para que alguém nos engane. Aqueles que pregam devem clamar em voz alta e jamais calar, não permitir que nenhuma falsa amabilidade os silencie com respeito às heresias destes tempos. Aqueles que ouvem devem cingir-se com o cinto da Verdade e ter suas mentes cheias de ideias claras com relação ao fim de todos os que se prostram diante de ídolos. Veja, o fim de todas as coisas se aproxima e com ele a abolição da idolatria. É hora de aproximar-se de Roma? Não será hora de afastar-se dela? É hora de mitigar e menosprezar a corrupção de Roma e de negar a gravidade de seus pecados? Sem dúvida deveríamos ser muito mais zelosos e impedir qualquer tentativa de romanizar a verdadeira religião, e duplamente cuidadosos a fim de evitar toda conivência com qualquer traição contra Cristo, e sempre dispostos a protestar contra a adoração antibíblica de qualquer tipo. Repito que a destruição da idolatria é certa; portanto, afastemo-nos da Igreja de Roma.


O assunto que estou tratando é de importância profunda e transcendente e exige a séria atenção de todos os protestantes. Tem estado em marcha um exitoso processo de desprotestantização. Sustento que devemos resistir firmemente ao romanismo. Apesar da suposta erudição e devoção de seus defensores, trata-se de um movimento pernicioso, destruidor de almas e contrário às Escrituras. Dizer que a união com Roma seria um insulto para os nossos reformadores martirizados é ser muito suave: seria um pecado e uma ofensa contra Deus! Antes de vê-la unida à Igreja de Roma, preferiria ver minha amada Igreja perecer em pedaços. Melhor morrer do que tornar-se papista!


Sem dúvida, a Unidade abstrata é algo excelente; mas a Unidade sem a Verdade é inútil. A Paz e a Uniformidade são belas e valiosas: mas a Paz sem o Evangelho - a Paz baseada num episcopado comum e não numa fé comum - carece de valor e não merece apelativo. Quando Roma tiver revogado os decretos de Trento e suas adições ao Credo, quando Roma houver se retratado de suas doutrinas falsas e antibíblicas, quando Roma renunciar formalmente à adoração de imagens, à adoração a Maria e à transubstanciação; então, e somente então, será hora de falar em união com ela. Até então há um abismo sobre o qual não se pode construir uma ponte segura. Até então, chamo todos os pastores a resistir até a morte contra a ideia de união com Roma. Nosso lema deve ser: "Não à comunhão com os idólatras!".


Escrevo tudo isso com tristeza. Mas as circunstâncias fazem com que seja absolutamente necessário que nos pronunciemos. Independentemente de para que lado do horizonte olhemos, vejo motivos para alarme. Não temo em absoluto pela verdadeira Igreja de Cristo. Mas temo pela Igreja da Inglaterra e por todas as igrejas protestantes da Inglaterra. A maré de acontecimentos parece ir contra o protestantismo e a favor do romanismo. Parece que Deus tem uma controvérsia conosco como nação e que está a ponto de castigar-nos pelos nossos pecados.


Não sou profeta. Não sei para onde nos dirigimos. Mas é possível que em alguns anos a Igreja da Inglaterra una-se à Igreja de Roma. Talvez a coroa real britânica descanse outra vez sobre a cabeça de um papista. Talvez a missa volte a ser rezada em Westminster. O resultado será que todos os cristãos que leem a Bíblia devem abandonar a Igreja da Inglaterra ou então aprovar a adoração de ídolos, transformando-se em idólatras! Deus nos conceda que jamais cheguemos a semelhante estado de coisas!


E agora somente me resta concluir mencionando algumas diretrizes para as almas de meus leitores. Vivemos numa época em que a Igreja de Roma caminha entre nós com forças renovadas e jactando-se de recuperar o terreno perdido. Permitam-me sinalizar como poderemos estar a salvo dela.


1) Precisamos de um profundo conhecimento da Palavra de Deus. Leiamos nossas Bíblias diligentemente. Que a Palavra habite em nós abundantemente. A leitura bíblica deve ser nossa prioridade. A Bíblia é a espada do Espírito; jamais a deixemos de lado. A Bíblia é nossa lâmpada, a verdadeira tocha, não andemos sem a sua luz. A Bíblia é a estrada real. Se a deixarmos por outro caminho - por mais bonito, antigo e frequentado que pareça - não devemos nos surpreender se acabamos adorando imagens e relíquias e indo ao confessionário com regularidade.

2) Precisamos de um zelo piedoso pelo Evangelho. Não deixemos de censurar qualquer tentativa, por menor que seja, de tirar um jota ou um til do Evangelho. Subtrair ensinos da Palavra de Deus é um caminho seguro para a idolatria.

3) Precisamos de ideias claras e sadias sobre o nosso Senhor Jesus Cristo e da salvação que há n'Ele. Ele é "a imagem do Deus invisível" e a verdadeira proteção contra toda idolatria quando O conhecemos verdadeiramente. Edifiquemos nossas vidas sobre o firme fundamento da obra que Ele completou na cruz. Tenhamos bem claro que Jesus já fez tudo o que é necessário para que sejamos salvos e que nossa parte é simplesmente exercer a fé de  uma criança. Não duvidemos que com esta fé já estamos plenamente justificados e que não podemos acrescentar nada aos méritos de Cristo.


Acima de tudo, mantenhamos comunhão contínua com a pessoa do Senhor Jesus! Habitemos n'Ele diariamente, alimentemos-nos d'Ele continuamente, olhemos para Ele e apoiemos-nos n'Ele o tempo todo! Compreendamos isso, e a ideia de outros mediadores parecerá completamente absurda. "Que necessidade tenho eu de ídolos?", diremos. "Tenho a Cristo e n'Ele tenho tudo. Que tenho a ver com os ídolos? Tenho Jesus em meu coração, Jesus na Bíblia, Jesus no Céu, e não quero nem preciso de nada mais!".


Uma vez que permitimos que o Senhor Jesus ocupe o lugar correto em nossos corações, todas as demais coisas em nossa religião serão ajustadas corretamente. A Igreja, os ministros, os sacramentos ou ordenanças, tudo o mais ocupará um segundo lugar.


A menos que Cristo se assente como Sacerdote e Rei no trono de nossos corações, nosso pequeno reino interior estará em perpétua confusão. Mas se Ele for "tudo em tudo", aí tudo irá bem. Diante d'Ele cairá todo ídolo! Conhecer a Cristo corretamente, crer em Cristo verdadeiramente, amar a Cristo de todo o coração é a verdadeira proteção contra o ritualismo, o catolicismo romano e toda forma de idolatria.






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ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.


FONTE
Traduzido de Advertencias a las Iglesias. Moral de Calatrava (Ciudad Real): Peregrino, 2003, pp. 132-157. Traduzido do espanhol.
Original em Inglês: Idolatry , 19ºcapítulo do livro “Knots Untieds

Tradução do blog “Calvinismo Hoje”,
por Fábio Vaz dos Santos


Divulgação e formatação
Projeto Ryle – Anunciando a verdade Evangélica.
Capa: Victor Silva

terça-feira, 10 de abril de 2012

Expiacão Limitada


ARMINIANOS, REFORMADOS E A EXPIAÇÃO LIMITADA


Tulipas
Por Leonardo Gonçalves 
(Pulpito Cristão)

Esta semana li um texto onde o autor afirma que a doutrina reformada da expiação particular ou limitada é uma petulância teológica. Neste texto gostaria de defender a ideia de que o autor, embora arminiano, também crê em uma expiação limitada. Isso porque a doutrina da expiação, seja ela arminiana ou reformada, sempre compreende uma expiação limitada. Senão, vejamos:
Arminianos pregam uma expiaçãolimitada pela vontade humana. Segundo eles, o alcance da expiação é limitado pela vontade humana, de querer ou rejeitar o Senhor. Não parece óbvio que, dentro do sistema arminiano também existe um limite para a expiação? A diferença é que este limite é estabelecido pelo homem.
Os reformados também creem numa expiação limitada. No entanto, afirmam que a única coisa que pode limitar Deus é Sua própria vontade. Não cremos em um Deus cuja vontade possa ser limitada pelo homem. Exaltamos a soberania de Deus sobre os assuntos humanos e cremos que Deus não pode ser limitado por qualquer coisa fora dele. Tal limitação seria uma diminuição do atributo da Onipotencia divina, um pecado que não desejamos cometer.
No arminianismo, o homem limita Deus. Para o reformado, Deus limita Deus. Por isso, quando os arminianos dizem que a expiação pregada por eles não é “limitada”, caem em óbvia contradição, pois ao dizer que Deus está condicionado pela vontade humana, limitam o poder de Deus para salvar. Segundo este raciocínio, Deus não pode salvar a quem ele quer. Ele está condicionado (limitado!) aos caprichos da humanidade.
Não sou inimigo dos arminianos. Encontro crentes devotos entre eles. Muitos dos meus amigos são arminianos. O que me assombra é inquisição teológica e o profundo preconceito que muitos arminianos – que são maioria na América Latina, devido à forte influencia pentecostal na evangelização do sul do nosso continente – demonstram com respeito aos reformados, calvinistas, atacando as doutrinas da graça quando sequer fizeram um esforço sincero de entendê-las. Assim, vão ferindo a lógica, as Escrituras e diminuindo Deus, limitando-o aqui e ali, recusando-se a submeter-se à vontade de um Deus que é totalmente soberano.
Não é incrível que aqueles que acusam os calvinistas de pregar uma expiação limitada também preguem um conceito limitado de expiação? Isso me faz lembrar aquela velha história do macaco sentado no próprio rabo e implicando com o rabo alheio.
A expiação, como pregada pelos reformados exalta Deus. A visão apresentada é de um Deus glorioso que não conhece limitações fora de si mesmo. Um Deus Onipontente, robusto, cheio de glória. A expiação pregada pelo arminiano diminui o Soberano, limita seu poder à vontade das suas criaturas. Não é em vão que essa forma de pensamento foi chamada de semi-pelagianismo. Ela representa um passo em direção à Roma. Não é um catolicismo, admito. Mas representa um passo em direção ao romanismo e seu antropocentrismo medieval.
Muitos falam em reavivamento reformado. O movimento chamado “Novo Calvinismo” tem apresentado uma nova cara da fé reformada, um “calvinismo carismático-continuísta”, digamos assim. No entanto, a pós-modernidade, com seu total desprezo pelas autoridades e um desejo de emancipação, de viver “livre” e fazer o que bem se entende, não querendo submeter-se a nada nem a ninguém, cria um cenário perfeito para a proliferação do Arminianismo, uma doutrina que coloca o homem no centro do universo e faz com que todas as ações divinas se centralizem em nós.
Do mesmo modo, um Deus que busca a própria glória e faz todas as coisas pelo beneplácito da sua vontade, que governa soberanamente, endurecendo a quem quer e quebrantando a quem quer; que reina sobre a vontade dos homens e rege o curso dos astros, certamente será desprezado por uma geração ensimesmada e cheia de desejos de auto-glorificação.
Soli Deo Gloria.